segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Trotes representam quase 40% das ligações recebidas pelo Samu em Poços



Órgãos de urgência e emergência e de segurança pública são alvos constantes de trotes. A falta de responsabilidade está em ocupar as linhas com chamadas falsas e outros tipos de brincadeiras que podem prejudicar a qualidade de serviços essenciais à comunidade.
De janeiro a outubro de 2011 foram registradas 37.337 chamadas telefônicas no Samu. Deste total, 14.351 foram trotes. Ou seja, 38,43%. Apenas em janeiro, 1.720 ligações foram de deboches, o que resulta em uma média de 57 trotes por dia.
O mês com menores números foi junho, com 1.227 trotes. A média é de 40 por dia. Segundo o coordenador de enfermagem do Samu, Adriano Vieira, o trote significa um grave problema ao serviço, uma vez que representa uma “brincadeira” de extremo mau gosto com um serviço que salva vidas.
“O trote toma tempo útil de ligação do serviço, atrapalha a central de regulação e, para as equipes operacionais, o transtorno ainda é maior. E quem paga por esse prejuízo é a administração e, consequentemente, a população. Já tivemos caso de sair para atender um trote e acontecer um fato real quando não tinha viatura disponível”, destaca.
“Já tivemos caso de sair para atender um trote e acontecer um fato real quando não tinha viatura disponível”, destaca Adriano Vieira, Coordenador de enfermagem
 Vieira diz que existem vários tipos de trotes: pessoas que ficam ligando e desligando, outros que inventam acidentes graves e até algumas pessoas que ligam para o Samu para conversar com as atendentes e, em alguns casos, chegam a dizer coisas obscenas. Geralmente essas ligações acontecem mais no período noturno.
“Já temos alguns personagens fixos, essas pessoas já estão sendo identificadas. Mas diante de um número tão grande de trotes, estamos cada dia mais preparados para identificar a veracidade. Geralmente quando o fato é verdadeiro mais de uma pessoa liga para pedir socorro, não é apenas uma. Também fazemos contato com outros órgãos de segurança para confirmar”, comenta.
Em relação ao trote feito por crianças, o coordenador de enfermagem explica que, quando o serviço foi criado em 2006, essa prática era bastante comum. Segundo ele, talvez movidas pela curiosidade do serviço. Com o passar dos anos esse índice caiu e poderia ser muito menor se os pais estivessem mais atentos ao que os filhos fazem.
“O Ministério da Saúde tem um projeto denominado “Samuzinho”, em que uma equipe vai até as escolas para dar palestras e falar do serviço. O objetivo é a conscientização para o uso adequado do Samu. Esse projeto ainda não está em andamento em Poços, mas sempre que somos solicitados vamos às escolas, empresas, entidades e quaisquer lugares para palestras, falar do Samu e dar um pequeno treinamento de primeiros socorros”, fala.
Exemplificando, Viera lembra um caso em que trotes davam conta de que uma criança havia sido atropelada por um ônibus na zona sul. Diante da gravidade das declarações, foi enviada uma viatura de suporte avançado (que é uma espécie de UTI móvel, com médico, enfermeiro e condutor) e uma viatura de suporte básico (com condutor socorrista e técnico de enfermagem). Além disso, foram deslocadas ao local uma viatura da Polícia Militar e uma do Corpo de Bombeiros, que também receberam o mesmo trote.
Outros dois trotes que também chamaram atenção foram relativos à informação de acidentes na serra do Selado. Por se tratar de um local mais distante da cidade e ermo não foi possível identificar que se tratava de uma falsa chamada. Em ambos os casos, tanto o Samu, quanto os bombeiros acabaram se deslocando até o local com todas as viaturas e equipamentos necessários para atendimento.
“Isso é muito preocupante porque, enquanto estamos atendendo uma falsa chamada, alguém pode morrer por falta de tempo hábil e de viaturas para fazer o serviço. Existem muitos absurdos, tem gente que liga para saber telefone de restaurantes, pizzarias e já teve caso de uma pessoa que queria usar o 192 como serviço de despertador. É preciso ter consciência da importância do serviço e utilizá-lo adequadamente, pois, além dos custos que ele gera, o Samu foi criado para ajudar a salvar vidas e cada minuto é importante”, afirma.
Bombeiros
No Corpo de Bombeiros, ligações por engano atrapalham mais do que trotes
 Assim como o Samu, o Corpo de Bombeiros também é alvo dos trotes. Segundo o sargento José de Alencar Gomes, por ser um número gratuito, essa prática é bastante comum, principalmente pelas crianças que acabam usando os orelhões para fazer as chamadas.
Outro tipo de problema que a corporação enfrenta é o fato do DDD da região de Campinas ser 19. Segundo o sargento, nesses casos a pessoa disca o prefixo primeiro, se esquece de usar o número da operadora e, em seguida, disca o número 3. Antes de completar a chamada já aciona acidentalmente o 193, número do Corpo de Bombeiros. Apesar desses casos não serem considerados trotes, também acabam ocupando a linha.
De acordo com Gomes, felizmente o número de trotes propriamente dito é pequeno e, quando acontece, além do atendente estar preparado para filtrar a ligação e identificar que se trata de uma chamada falsa, o número de quem ligou também é identificado, o que pode facilitar a identificar a veracidade do fato.
“Infelizmente essa prática acaba comprometendo o nosso serviço e gera perda de tempo e prejuízos. Depois de muito tempo enfrentando esse problema, hoje temos meios para conseguir descobrir se a chamada é verdadeira ou não. Geralmente quando é um caso grave, não é apenas uma pessoa que liga, são várias, além disso, tem o tom da voz. Mas mesmo assim é preciso ficar atento porque, na dúvida, o melhor é enviar uma viatura, já que com a vida cada minuto é fundamental”, relata.
No mês de setembro não foi registrado nenhum trote no Corpo de Bombeiros. Em outubro, apenas um trote. Em relação à tentativa de trote, esse número é maior, mas como disse Gomes, a filtragem dessas ligações tem gerado resultados positivos. Os custos para atender um trote podem se bastante significativos, já que, geralmente, são enviados para a ocorrência cerca de três viaturas e nove bombeiros.
PM
PM registra média de 15 ligações falsas por dia. Maioria no horário de entrada e saída das escolas
 A Polícia Militar também enfrenta problemas com os trotes e, apesar do número ter caído significativamente, segundo o capitão Edson Beijamim, ainda são registradas ações como essa, principalmente no horário de entrada e saída de escolas. Em média, são registradas 15 ligações falsas por dia.
O sargento Amanias Bracarensi Trimolet lembra que um trote é uma contravenção penal. “É um problema que, além de importunar, gera transtorno, custos e pode colocar em risco a segurança da população. Uma viatura que está atendendo um falso chamado poderia estar atendendo uma ocorrência grave”, destaca.
Vale lembrar que, assim como os outros órgãos de segurança, a Polícia Militar também tem serviço de identificação de chamadas e geralmente essas pessoas acabam sendo identificadas, mesmo quando as ligações partem dos telefones públicos.
“Já conseguimos efetuar prisões em fragrante de pessoas passando trotes. O que a gente percebe é que muitos desses trotes são feitos por crianças que aproveitam a ausência dos pais em casa e fazem isso como se fosse uma brincadeira. As pessoas devem ser conscientizadas que um trote prejudica a sociedade como um todo”, conclui.
Telefones de emergência
Samu - 192  
Corpo de Bombeiros - 193  
Defesa Civil - 199  
Polícia Militar - 190 
Polícia Rodoviária Estadual - 198
Polícia Rodoviária Federal  - 191
Polícia Civil - 197