LUCIENNE CUNHA
Milhares de pessoas no Brasil são vítimas de todos os tipos golpes, mas a esperteza de quem pratica esses atos só se concretiza aliada à ganância de quem acha que pode tirar alguma vantagem ou ganhar dinheiro fácil. Vou contar a experiência que vivi ao me deparar com uma mensagem por telefone que dizia que ganharia um prêmio de R$ 75 mil.
Era quase meia-noite quando a mensagem chegou ao telefone: "Urgente, você é um dos escolhidos da Tim e ganhou R$ 75 mil reais na sua recarga premiada".
A curiosidade e o faro jornalístico foram maiores, decidi ligar para ver como agiam os golpistas. Mesmo sendo tarde da noite entrei em contato com o número indicado na mensagem. Do outro lado da linha atende um homem com voz firme e se dizendo operador da Tim. Falei da mensagem que tinha recebido e ele pediu para que aguardasse um pouco que iria verificar. Tudo muito perfeito, até o barulho era como se estivesse mesmo falando numa central de operação de telefonia.
Passados alguns minutos, o operador volta e fala que eu tinha sido a sétima premiada e que tinha mesmo ganhado um prêmio de 75 mil reais. Quando perguntei como faria para resgatar o prêmio, o homem me pediu que entrasse em contato no outro dia de manhã para receber todas as orientações necessárias, já que naquela hora da noite o sistema estava fora do ar.
Na manhã seguinte, decidida a ver até onde ia a imaginação e o "profissionalismo" dos golpistas, liguei novamente. Um outro operador atende o telefone, dizendo que era o diretor geral de promoções da Tim. Chique, não é, ser atendido por um diretor geral? Voltei a falar que tinha recebido a mensagem e do prêmio que tinha ganhado, e o diretor, do outro lado da linha também me pediu para aguardar que iria conferir. Passados poucos minutos ele volta falando que eu podia comemorar que tinha sido sorteada através de um programa do SBT, me perguntou se eu tinha assistido ao programa, fez festa e me indagou se estava feliz. Fui dando corda.
Para não levantar muitas suspeitas e fazer com que ele acreditasse que eu estava prestes a cair no golpe, me mostrei um pouco cética e desconfiada. O golpista voltou a falar do prêmio e de quantas pessoas já tinham sido sorteadas, me perguntou a cidade em que morava e em seguida pediu para que eu pegasse um papel para anotar os dados e como deveria fazer para resgatar o prêmio.
Em seguida, me passou quatro nomes de agências bancárias e me perguntou se eu tinha conta em alguma. Escolhi uma das agências, ele ainda me perguntou sobre meu saldo, querendo saber se tinha pelo menos um salário mínimo em conta, se tinha débitos com o banco. Me perguntou se a agência bancária era próxima e se podia ir até lá naquele momento. Eu disse que sim e foi quando ele me falou que quando chegasse à agência era para eu entrar de novo em contato e ele me passaria uma conta para que fossem depositados R$ 300, que seriam destinados a famílias carentes. Depois que eu fizesse isso, o dinheiro do prêmio já cairia na minha conta.
Cansada da brincadeira, resolvi me revelar e disse que ele estava falando com uma jornalista que sabia que se tratava de um golpe e que iria denunciá-lo, passar seu telefone para que a polícia rastreasse e ele fosse preso. Nesse momento o golpista soltou uma risada, disse que não teria como ele ser preso, porque ele já estava. E, mais cínico ainda, disse que eu tinha acabado com a brincadeira e que ele iria desligar.
O golpista disse que estava falando de uma penitenciária no Nordeste, cumpria uma pena de 10 anos, enquadrado no artigo 157 (roubo) e já estava há cinco anos preso. Ele contou que repartia a cela com outras nove pessoas e que ali funcionava uma pequena central telefônica montada para dar esses golpes.
Perguntei como ele escolhia as vítimas, os números de telefones e ele me falou que isso era aleatório, que diariamente mais de mil mensagens como a que recebi eram enviadas e que pelo menos uma pessoa por dia caía nesse golpe. O valor pedido para as vítimas variava, podia ser também revertido em créditos para o celular. Ao perguntar para que seria o dinheiro, ele explicou que 30% ficava com o laranja que emprestava a conta, 5% pagava a central de telefone, uma parte ia para a família dos presos e o restante era usado para comprar drogas para o consumo dentro da cela.
Em nenhum momento da nossa conversa ele demonstrou arrependimento pelo que fazia e até chamou as pessoas que caem no golpe de "otários gananciosos". Chegou até a dizer que "estamos fazendo a nossa parte, se alguém cair não é problema nosso". O falso diretor geral de promoções ainda contou que era casado, tinha dois filhos e que não via a hora de sair da penitenciária. Também me colocou para conversar com o atendente que tinha falado comigo na noite anterior e chegou a pedir que seus companheiros de cela batessem palmas pra mim, dando claros sinais que de fato ele era o chefe ali dentro.
Nossa conversa chegou ao fim, no momento até me veio à cabeça uma vontade de dar algum conselho, mas imaginei que seria algo inútil e dispensável. Despedi-me do golpista e agradeci por não ser mais uma vítima.
Muito interessante. Acho que foi a primeira vez que fico sabendo desses pormenores hehehe. Já recebi várias vezes mensagens do tipo mas nunca caí - inda bem.
ResponderExcluirAcho que o pessoal mais velho que acaba sendo as maiores vítimas, pois não têm tanta intimidade com a tecnologia.
Abraços